segunda-feira, 13 de abril de 2009

XVIII. A LUA


XVIII. A LUA

O décimo oitavo trunfo é atribuído à letra Qoph, que representa Peixes no zodíaco. Chama-se A Lua.

Peixes é o último dos signos. Representa o último estágio do inverno. Poderia ser denominado a Porta da Ressurreição (a letra Qoph significa nuca e está vinculada às potências do cerebelo). No sistema do velho Aeon, a ressurreição do Sol não era somente a partir do inverno, mas também a partir da noite. E esta carta representa a meia-noite.

“Há um amanhã em botão na meia-noite”, escreveu Keats. Por esta razão aparece na base da carta, abaixo da água que está colorida de gráficos de abominação, o escaravelho sagrado, o Kephra egípcio, prendendo em suas mandíbulas o disco solar. É este escaravelho que transporta o Sol em seu silêncio através da escuridão da noite e da severidade do inverno.

Acima da superfície da água há uma paisagem sinistra e ameaçadora. Vemos uma senda ou corrente tingida de sangue que flui de uma brecha entre duas montanhas áridas; nove gotas de sangue impuro, no formato de Yods, caem sobre ela provenientes da Lua.

A Lua, participando como participa do mais alto e do mais baixo e preenchendo todo o espaço intermediário, é o mais universal dos planetas. Em seu aspecto mais elevado, ocupa o lugar do vínculo entre o humano e o divino, como é exibido no Atu II. Neste trunfo, seu avatar mais baixo, ela se une à esfera terrestre de Netzach com Malkuth, a culminação na matéria de todas as formas superiores. Trata-se da lua minguante, a lua da feitiçaria e dos feitos abomináveis. Ela é a escuridão envenenada que é a condição do renascimento da luz.

Esta senda é guardada pelo tabu. Ela é impureza e bruxaria. Acima das colinas estão as torres negras do mistério inominado, do horror e do medo. Todo o preconceito, toda a superstição, a tradição morta e a aversão ancestral, tudo se combina para obscurecer seu rosto perante os olhos dos homens. É necessária uma coragem insuperável para começar a trilhar esta senda. Aqui reside a vida fatídica, enganosa. O sentido do fogo se frustra. A lua não tem ar. O cavaleiro empenhado nesta busca tem que contar com os três sentidos inferiores: tato, paladar e olfato. * A luz que possa aqui existir é mais fatal que as trevas e o silêncio é ferido pelo uivo de bestas selvagens.

* Ver O Livro das Mentiras, cap. pb, Bortsch.

A que deus nos dirigiremos à procura de ajuda ? É Anúbis, o vigilante do crepúsculo, o deus que se posta no limiar, o deus-chacal de Khem, que permanece sob forma dupla entre os caminhos. Aos seus pés, à espreita, aguardam os próprios chacais, para devorar as carcaças daqueles que não O viram, ou que ignoravam seu nome.

Este é o limiar da vida; este é o limiar da morte. Tudo é dúbio, tudo é misterioso, tudo é intoxicante. Não a intoxicação benigna, solar de Dionísio, mas sim a horrível insanidade de drogas perniciosas; trata-se da embriaguez dos sentidos após a mente ter sido abolida pelo veneno desta Lua. Isto é o que é escrito de Abraão em O Livro do Princípio: “Um horror de trevas imensas abateu-se sobre ele.” É-se lembrado do eco mental de compreensão subconsciente daquela suprema iniqüidade que os místicos constantemente celebraram em seus relatos da noite sombria da alma. Mas os melhores homens, os homens verdadeiros não consideram o assunto em tais termos de modo algum. Sejam quais forem os horrores que possam afligir a alma, as abominações que possam excitar a aversão do coração, os terrores que possam assaltar a mente, a resposta será a mesma em todo estágio: “Quão esplêndida é a aventura !”

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