segunda-feira, 13 de abril de 2009

XV. O DIABO


XV. O DIABO

Esta carta é atribuída à letra Ayin, que significa olho, e se refere a Capricórnio no zodíaco. Na Idade das Trevas do cristianismo, foi completamente incompreendida. Éliphas Lévi a estudou muito profundamente devido à sua conexão com a magia cerimonial - seu assunto favorito - e a redesenhou, identificando-a com Baphomet, o ídolo de cabeça de asno dos Cavaleiros do Templo. * Mas, naquela época, a pesquisa arqueológica não tinha ido muito longe, a natureza de Baphomet não sendo totalmente compreendida (ver Atu 0 nas páginas anteriores). Mas, ao menos, ele conseguiu identificar o bode, retratado na carta, com Pã.

* Os cristãos primitivos também foram acusados de adorar um asno, ou deus de cabeça de asno. Ver Browning, The Ring and the Book ( O Papa).

Na Árvore da Vida, os Atu XIII e XV estão simetricamente dispostos. Conduzem de Tiphareth, a consciência humana, às esferas nas quais Pensamento (por um lado) e Êxtase (por outro) são desenvolvidos. Entre eles o Atu XIV conduz, de modo semelhante, à esfera que formula a Existência (ver nota acerca do Atu X e arranjo). Estas três cartas podem, conseqüentemente, ser sintetizadas como um hieróglifo dos processos pelos quais a idéia se manifesta como forma.

Essa carta representa a energia criativa, sob a sua forma mais material. No zodíaco, Capricórnio ocupa o zênite. É o mais exaltado dos signos; é o bode saltando com volúpia sobre os cumes da terra. Este signo é regido por Saturno, que tende para o egoísmo e a perpetuidade. Neste signo, Marte é exaltado, mostrando em sua melhor forma a ígnea energia material da criação. A carta representa Pan Pangenetor, o gerador de tudo. É a Árvore da Vida vista contra um fundo das mais primorosamente tênues, complexas e fantásticas formas de loucura, a loucura divina da primavera, já prevista na loucura meditativa do inverno, pois o Sol se volta para o norte ao entrar neste signo. As raízes da Árvore são tornadas transparentes, a fim de exibir os inumeráveis saltos da seiva; diante dela, posta-se o bode do Himalaia, com um olho no centro de sua testa, representando o deus Pã na superfície das mais elevadas e mais secretas montanhas da Terra. Sua energia criativa está velada no símbolo do bastão do Adepto Maior, coroado com o globo alado e as serpentes-gêmeas de Hórus e Osíris.

“Ouve-me, Senhor das Estrelas,
Pois a ti tenho venerado sempre
Com máculas, pesares e cicatrizes,
Com jubiloso, jubiloso Esforço.
Ouve-me, ó bode alvo como o lírio
Viçoso como uma moita de espinhos
Com um colar de ouro para tua garganta,
Um arco escarlate para teus cornos.”

O signo do Capricórnio é rude, severo, sombrio, mesmo cego; o impulso para criar não leva em conta a razão, o costume ou a precaução. É divinamente inescrupuloso, sublimemente negligente do resultado. “..tu não tens direito senão fazer tua vontade. Faze isso, e nenhum outro dirá não. Pois vontade pura, desaliviada de propósito, livre da sede de resultado, é toda senda perfeita.” (AL. I, 42-44)

Cumpre observar, ademais, que o tronco da Árvore perfura os céus; em torno dele está indicado o anel do corpo de Nuit. Analogamente, o eixo do bastão desce indefinidamente para o centro da terra. “Se eu levanto minha cabeça, Eu e minha Nuit somos um. Se eu abaixo minha cabeça, e lanço veneno, então há êxtase da terra, e eu e a terra somos um.” (AL. II, 26)

A fórmula desta carta é então a completa apreciação de todas as coisas existentes. Ele se regozija no áspero e no estéril não menos do que no suave e no fértil. Todas as coisas o exaltam igualmente. Ele representa a descoberta do êxtase em todo fenômeno, não importa quão naturalmente repugnante; ele transcende todas as limitações; ele é Pã; ele é Tudo.

É importante observar algumas outras correspondências. As três consoantes-vogais do alfabeto hebraico, Aleph, Yod, Ayin, estas três letras formam o nome sagrado de Deus, I A O. Estes três Atu, IX, 0 e XV oferecem assim uma explicação tripla da energia criadora masculina, porém esta carta especialmente representa a energia masculina no máximo da masculinidade. Saturno, o regente, é Set , o deus de cabeça de asno dos desertos egípcios; ele é o deus do sul. O nome se refere a todos os deuses contendo essas consoantes, como Shaitan ou Satã (ver Magick, pgs. ...). As cercanias são essenciais ao simbolismo - sítios estéreis, especialmente lugares elevados. O culto da montanha é um paralelo exato. O Velho Testamento está repleto de ataques a reis que celebravam o culto em “lugares elevados”; isto muito embora Sião fosse uma montanha ! Este sentimento persistiu, mesmo até os dias do sabá das feiticeiras, realizado, se possível, num cume desolado, mas (caso não se dispusesse de nenhum) ao menos num local selvagem, não contaminado pela artificialidade dos homens.

Note-se que Shabbathai, a “esfera de Saturno”, é o sabá. Historicamente, o ânimo contra as feiticeiras diz respeito ao medo dos judeus, cujos ritos, suplantados pelas formas cristãs de magia, haviam se tornado misteriosos e terríveis. O pânico sugeria que crianças cristãs eram furtadas, sacrificadas e devoradas. A crença perdura até os dias de hoje.

Em todo símbolo desta carta existe a alusão às coisas mais elevadas e mais remotas. Mesmo os cornos do bode são espirais para representar o movimento da energia que tudo permeia. Zoroastro define Deus como “possuindo uma força espiral”. Comparar aos mais recentes, se menos profundos, escritos de Einstein. *

* Compare Saturno, num extremo dos Sete Viandantes Sagrados, com a Lua no outro: o ancião e a jovem - ver “A Fórmula de Tetragrammaton”. São ligados como nenhuma outra dupla de planetas já que 3 ao quadrado = 9 e cada um contém em si mesmo os extremos de sua própria idéia.

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