segunda-feira, 13 de abril de 2009

XIV. ARTE


XIV. ARTE

Esta carta é o complemento e o cumprimento do Atu VI, Gêmeos. Pertence a Sagitário, o oposto de Gêmeos no zodíaco e, portanto, “segundo uma outra maneira” um com ele. Sagitário significa o arqueiro e a carta é ( sob sua forma mais simples e mais primitiva) um retrato de Diana, a Caçadora. Diana é, em primeiro lugar, uma das deusas lunares, embora os romanos tenham produzido uma certa degradação da deusa a partir da “Artemis virgem” grega, que é também a Grande Mãe da Fertilidade, Diana dos efésios, a de muitos seios (uma forma de Ísis - ver Atu II e III). A conexão entre a Lua e a caçadora é indicada pelo formato do arco, e a significação oculta de Sagitário é a seta perfurando o arco-íris; os últimos três caminhos da Árvore da Vida compõem a palavra Qesheth, arco-íris e Sagitário porta a flecha que perfura o arco-íris pois seu caminho conduz da Lua de Yesod ao Sol de Tiphareth (esta explicação é altamente técnica, o que se justifica porque a carta representa uma importante fórmula científica, que não pode ser expressa em linguagem apropriada à compreensão comum).

Esta carta representa a consumação do casamento real que ocorreu no Atu VI. Os personagens negro e branco estão agora unidos numa única figura andrógina. Mesmo as abelhas e as serpentes em seus mantos fizeram uma aliança. O leão vermelho tornou-se branco e cresceu em tamanho e importância, enquanto que a águia branca, semelhantemente expandida, tornou-se vermelha. Ele trocou seu sangue vermelho pelo glúten branco dela ( só é possível explicar estes termos a estudantes avançados de alquimia).

O equilíbrio e a permuta são efetuados completamente na própria figura: a mulher branca possui agora uma cabeça negra, o rei negro, uma branca. Ela usa a coroa de ouro com uma faixa de prata, ele, a coroa de prata com uma fita de ouro, mas a cabeça branca à direita é prolongada na ação por um braço branco à esquerda que segura a taça do glúten branco, enquanto que a cabeça negra à esquerda tem o braço negro à direita segurando a lança que se tornou uma tocha e verte seu sangue ardente. O fogo queima a água, a água extingue o fogo.

O manto da figura é verde, o que simboliza crescimento vegetal: aqui reside uma alegoria alquímica. No simbolismo dos pais da ciência, todos os objetos “reais” eram considerados como mortos; a dificuldade de transmutar os metais era que os metais, como ocorrem na natureza, tinham a natureza de excrementos porque não cresciam. O primeiro problema da alquimia era elevar o mineral à vida vegetal. Os Adeptos acharam que o modo correto de fazer isso era imitar os processos da natureza. Destilação, por exemplo, não era uma operação a ser executada aquecendo-se alguma coisa numa retorta sobre uma chama; tinha que ocorrer naturalmente, mesmo se meses fossem exigidos para consumar a obra (naquele período da civilização meses estavam à disposição das mentes inquiridoras).

Muito do que as pessoas consideram hoje ignorância, sendo estas ignorantes do que os homens de outrora pensavam, procede desse mal-entendido. Na base desta carta, por exemplo, são vistos o fogo e a água misturados harmoniosamente. Mas isto é apenas um símbolo rudimentar da idéia espiritual, que é a satisfação do desejo do elemento incompleto de um tipo em satisfazer sua fórmula por assimilação de seu igual e contrário.

Este estado da Grande Obra portanto consistia na mistura dos elementos contraditórios num caldeirão. Este é aqui representado como dourado ou solar, porque o Sol é o Pai de toda a Vida e (particularmente) preside a destilação. A fertilidade da Terra é mantida pela chuva e o sol. A chuva é formada por um processo lento e suave e é tornada efetiva pela cooperação do ar, que é ele mesmo alquimicamente o resultado do casamento do fogo e a água. Assim, também a fórmula do prolongamento da vida é morte, ou putrefação. Aqui é simbolizado pelo caput mortuum sobre o caldeirão, um corvo pousado sobre uma caveira. Em termos de agricultura, isto é a terra inculta.

Há uma interpretação particular desta carta que é apenas para ser compreendida pelos iniciados do Nono Grau da O. T. O., visto que contém uma fórmula mágica prática de tal importância que torna impossível sua comunicação aberta.

Elevando-se do caldeirão, como resultado da operação aí realizada, vê-se um jorro de luz que se transforma em dois arco-íris que formam a capa da figura andrógina. No centro uma seta aponta para cima. Isto se liga ao simbolismo geral previamente explicado, a espiritualização do resultado da Grande Obra.

O arco-íris simboliza, além disso, um outro estágio no processo alquímico. Num certo período, como resultado da putrefação, observa-se um fenômeno de luzes multicoloridas (a “capa de muitas cores” que se dizia ter sido usada por José e Jesus, nas antigas lendas, se refere a isso. Ver também Atu 0, o traje de bufão do Homem Verde, redentor-sonhador).

Em síntese, o conjunto desta carta representa o teor oculto do ovo descrito no Atu VI. É a mesma fórmula, mas num estágio mais avançado. A dualidade original foi completamente compensada; mas depois do nascimento vem o crescimento; depois do crescimento, a puberdade, e depois da puberdade, purificação.

O estágio final da Grande Obra é, portanto, prenunciado nesta carta. Atrás da figura, estando suas bordas coloridas com o arco-íris que agora emergiu dos arco-íris gêmeos formadores da capa da figura, há uma auréola encerrando a inscrição VISITA INTERIORA TERRAE RECTIFICANDO INVENIES OCCULTUM LAPIDEM (“Visita as partes interiores da terra: pela retificação tu descobrirás a pedra oculta.” Suas iniciais formam a palavra V.I. T. R. I. O. L., o solvente universal, do qual se tratará na seqüência (seu valor é 726 = 6 x 11 = 33 x 22).

Essa “pedra oculta” é chamada também de medicina universal. Por vezes é descrita como uma pedra, por vezes como um pó, às vezes como uma tintura. Divide-se novamente em duas formas, o ouro e a prata, o vermelho e o branco, mas sua essência é sempre a mesma e sua natureza só pode ser compreendida pela experiência. É porque os alquimistas lidavam com substâncias na fronteira da “matéria” que compreendê-los é tão difícil. O tema da química e da física modernas é o que eles teriam chamado de estudo das coisas mortas, pois a diferença real entre coisas vivas e mortas é, numa primeira instância, o comportamento delas.

As iniciais da divisa alquímica dada acima formam a palavra Vitriol. Isto não tem nada a ver com os sulfatos seja do hidrogênio, do ferro ou do cobre, como poderia ser supor a partir do uso moderno. Representa uma combinação equilibrada dos três princípios alquímicos, enxofre, mercúrio e sal. Estes nomes não têm nenhuma conexão com as substâncias assim denominadas pelo vulgo. Já foram descritos nos Atu I, III e IV.

O conselho para “visitar o interior da terra” é uma recapitulação (num plano mais alto) da primeira fórmula da Obra que tem sido o tema tão constante das exposições deste ensaio. A palavra importante na prescrição é a central RECTIFICANDO, que sugere a condução certa da nova substância viva na senda da Vontade Verdadeira. A pedra filosofal, a medicina universal deve ser um talismã de uso em qualquer evento, um veículo completamente elástico e completamente rigoroso da Vontade Verdadeira dos alquimistas. Trata-se de fertilizar e trazer à Vida manifesta o ovo órfico.

A seta, tanto nesta carta como no Atu VI, é de suma importância. A seta é, na verdade, o glifo mais simples e mais puro de Mercúrio, sendo o símbolo da Vontade dirigida. Convém enfatizar este fato mediante uma citação do Quarto Aethyr, LIT, em The Vision and the Voice (ver Apêndice).

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