segunda-feira, 13 de abril de 2009

XIII. MORTE


XIII. MORTE

Esta carta é atribuída à letra Nun, que significa peixe, o símbolo da vida sob as águas, a vida se movendo através das águas. Refere-se ao signo zodiacal do Escorpião, que é regido por Marte, o planeta de energia ígnea sob sua forma mais baixa, que é, portanto, necessária para produzir o impulso. Na alquimia, esta carta explica a idéia da putrefação, o nome técnico dado por seus adeptos à série de alterações químicas que desenvolve a forma final da vida a partir da semente latente original no ovo órfico.

Este signo é um dos dois mais poderosos do zodíaco, mas não possui a simplicidade e intensidade de Leão. É formalmente dividido em três partes: a mais baixa é simbolizada pelo escorpião, que supunham os antigos observadores da natureza, comete suicídio ao se encontrar cercado por um anel de fogo, ou, de outra maneira, numa situação desesperada. Isto representa putrefação sob sua forma mais baixa. A tensão do ambiente tornou-se intolerável e o elemento atacado voluntariamente se sujeita à alteração; assim, o potássio arrojado à água se torna inflamado e aceita o abraço do radical hidroxilo.

A interpretação mediana deste signo é dada pela serpente, a qual é, ademais, o tema principal do signo. * A serpente é sagrada, Senhora da Vida e da Morte, e seu método o de progressão sugere a ondulação rítmica daquelas fases gêmeas da vida que chamamos respectivamente de vida e morte. A serpente é também, como já previamente explicado, o principal símbolo da energia masculina. A partir disto se perceberá que esta carta é, num sentido rigorosíssimo, o complemento da carta chamada Volúpia, Atu XI e o Atu XII representa a solução ou dissolução que as une.

* Os qabalistas incorporaram ao Livro do Gênesis, caps. I e II, esta doutrina da regeneração. NChSh, a Serpente do Éden tem o valor 358, bem como MShICh, Messias. Ele é, conseqüentemente, na doutrina secreta, o Redentor. Esta tese pode ser desenvolvida de maneira extensiva e detalhada. Na lenda, mais tarde, a doutrina reaparece num simbolismo ligeiramente diferente como a história do dilúvio, explicada alhures neste ensaio. Certamente, o peixe é idêntico em essência à serpente, pois Peixe= NVN=Escorpião=Serpente. Além disso, Teth, a letra de Leão, significa serpente. Mas Peixe é também Vesica ou útero e Cristo, e assim por diante. Este símbolo resume a Doutrina Secreta inteira.


O aspecto mais elevado da carta é a águia, que representa exaltação acima da matéria sólida. Os antigos químicos entenderam que em certos experimentos os elementos mais puros (isto é, os mais tênues) presentes eram desprendidos como gás ou vapor. São assim representados nesta carta os três tipos essenciais de putrefação.

A própria carta representa a dança da morte. A figura é um esqueleto manipulando uma foice, sendo tanto o esqueleto quanto a foice importantes símbolos saturninos. Isto parece estranho, visto que Saturno não tem nenhuma conexão clara com Escorpião; todavia, Saturno representa a estrutura essencial das coisas existentes. Ele é aquela natureza elementar das coisas que não é destruída pelas alterações ordinárias que ocorrem nas operações da natureza. Além disso, o esqueleto está coroado com a coroa de Osíris, representando Osíris nas águas de Amenti. E, ainda, ele é o deus criativo original, secreto e masculino: ver Atu XV, “Redeunt Saturnia regna.” Foi somente a corrupção da tradição, a confusão com Set, e o culto do deus que morre, incompreendido, deformado e distorcido pela Loja Negra, que o transformaram num símbolo senil e monstruoso.

Pela varredura de sua foice o esqueleto cria bolhas nas quais começam se configurar as novas formas que ele cria em sua dança, sendo que estas formas também dançam.

Nesta carta o símbolo do peixe é soberano. O peixe (IL PESCE, como o chamam em Nápoles e muitos outros lugares) e a serpente são os dois principais objetos de veneração em cultos que ensinaram as doutrinas da ressurreição ou reencarnação. Assim temos Oannes e Dagon, deuses-peixes, na Ásia ocidental. Em muitas outras partes do mundo existem cultos similares. Mesmo no cristianismo, Cristo era representado como um peixe. Supunha-se que a palavra grega ICQUS, “ que significa peixe e muito adequadamente representa Cristo”, como Browning lembra, fosse um notariqon, as iniciais de uma sentença que significa “Jesus Cristo Filho de Deus, Salvador “. Também não é por acidente que São Pedro fosse um pescador. Os Evangelhos, inclusive, estão cheios de milagres envolvendo peixes e o peixe é sagrado para Mercúrio devido ao seu sangue frio, sua celeridade e seu brilho. Há, ademais, o simbolismo sexual. Isto lembra novamente a função de Mercúrio como guia dos mortos e como o contínuo elemento elástico na natureza.

Esta carta, portanto, deve ser considerada de uma maior importância e catolicidade do que se poderia esperar da simples atribuição zodiacal. Chega a ser um compêndio de energia universal na sua forma mais secreta.

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