XII. O PENDURADO
Esta carta, atribuída à letra Mem, representa o elemento água. Seria talvez melhor dizer que representa a função espiritual da água na economia da iniciação; é um batismo que é também uma morte. No Aeon de Osíris, esta carta representava a suprema fórmula de adeptado, pois a figura do afogado ou pendurado possui seu próprio significado especial. As pernas estão cruzadas de maneira que a perna direita forma um ângulo reto com a perna esquerda e os braços estão esticados a um ângulo de 60 graus, de sorte a formar um triângulo eqüilátero, o que produz o símbolo do triângulo encimado pela cruz, que representa a descida da luz ao interior das trevas para redimi-la. Por esta razão há Discos verdes - verde, a cor de Vênus, significa graça - nas terminações dos membros e da cabeça. O ar acima da superfície da água também é verde infiltrado pelos raios da luz branca de Kether. A figura toda está suspensa do Ankh, um outro modo de figurar a fórmula da Rosacruz, enquanto que em torno do pé esquerdo está a serpente, criadora e destruidora, que opera toda a transformação (o que será visto na carta que se segue a esta).
Pode-se notar que há um aparente aumento de escuridão e solidez à proporção que o elemento redentor se manifesta, mas a cor verde é a cor de Vênus, da esperança que reside no amor. Isto depende da formulação da Rosacruz, do aniquilamento do eu no amado, a condição de progresso. Nesta escuridão inferior de morte, a serpente da nova vida começa a se agitar.
No Aeon anterior, o de Osíris, o elemento ar, que é a natureza deste Aeon, não antipatiza com a água ou o fogo; acordo era a marca desse período. Mas agora, sob um Senhor Ígneo do Aeon, o elemento aquoso, na medida em que a água está abaixo do Abismo, é definitivamente hostil, a menos que a oposição seja a oposição correta implícita no casamento. Mas nesta carta a única questão é da “redenção” do elemento submerso e, portanto, tudo está invertido. Esta idéia do sacrifício é, em última análise, uma idéia errônea.
“Eu dou inimagináveis alegrias sobre a terra: certeza, não fé, enquanto em vida, sobre a morte; paz indescritível, descanso, êxtase; e Eu não peço algo em sacrifício.”
“Todo homem e toda mulher é uma estrela.”
A idéia inteira do sacrifício é uma concepção equívoca da natureza e estes textos d’O Livro da Lei são a resposta a isso.
A água é o elemento da ilusão; é possível encarar este símbolo como um legado mau do velho Aeon. Para usar uma analogia anatômica: é um apêndice vermiforme espiritual.
Foi a água e os moradores da água que assassinaram Osíris; são os crocodilos que ameaçam Hoor-Pa-Kraat.
Esta carta é bela de uma maneira estranha, imemorial, moribunda. É a carta do deus que morre; sua importância no presente baralho é simplesmente aquela do cenotáfio. Ela diz: “Se acontecer das coisas se tornarem más daquele jeito novamente, na nova Idade das Trevas que parece ameaçar, este é o modo de acertar as coisas.” Mas se as coisas têm que ser acertadas, isto indica que estão muito erradas. A principal meta dos sábios deveria ser livrar a espécie humana da insolência do auto-sacrifício, da calamidade da castidade; a fé tem que ser morta pela certeza e a castidade pelo êxtase.
Está escrito em O Livro da Lei: “Não te apiedes dos caídos! Eu nunca os conheci. Eu não sou para eles. Eu não consolo: Eu odeio o consolado & o consolador.”
Redenção é uma palavra ruim; implica numa dívida. Pois toda estrela possui riqueza ilimitada; o único meio adequado de lidar com os ignorantes é conduzi-los ao conhecimento de sua herança de estrela. Para fazê-lo é necessário comportar-se como deve ser feito a fim de entrar em acordo com os animais e as crianças: tratá-los com absoluto respeito, mesmo, num certo sentido, com veneração.
- - -
Note-se na Precessão dos Aeons. “O Pendurado” é uma invenção dos Adeptos da fórmula do I.N.R.I.- J.A.O.. No Aeon anterior ao osiríaco, o de Ísis (água), ele é “O Afogado”. As duas colunas de suporte da forca mostrada nos baralhos medievais eram, no sistema partenogenético de explicação e regência da natureza, o fundo do mar e a quilha da arca. Neste Aeon todo nascimento era considerado uma emanação, sem intervenção masculina, da Deusa-Mãe ou Deusa-Estrela, Nuit. Toda a morte é um retorno a Ela. Isto explica a atribuição original do Atu à água e o som M o retorno ao silêncio eterno, como na palavra AUM. Esta carta é, portanto, especialmente sagrada ao místico, sendo a atitude da figura uma postura ritual na prática denominada “O Sono de Shiloam”.
- - -
A importância alquímica desta carta é tão estranha a todas as implicações dogmáticas que se afigurou melhor tratá-la completamente em separado. Suas qualidades técnicas são independentes de qualquer maneira de todas as outras doutrinas. Temos aqui uma matéria de significado estritamente científico. O estudante será prudente ao ler em conexão com estas observações o capítulo XII de Magick.
O Atu representa o sacrifício de “uma criança do sexo masculino de perfeita inocência e elevada inteligência” - estas palavras foram escolhidas com o mais extremo cuidado. O significado de sua atitude já foi descrito, e do fato de ser dependurado de um Ankh, um equivalente da Rosacruz. Em algumas cartas antigas a forca é um pilone, ou o galho de uma árvore, cuja forma sugere a letra Daleth (((grafar a letra Daleth))), Vênus, Amor.
Ao fundo do Pendurado há uma grade imensa de pequenos quadrados. São as plaquetas elementares que exibem os nomes e sigilla de todas as energias da natureza. Através de seu trabalho uma criança é gerada, como é mostrado pela serpente se agitando na escuridão do Abismo abaixo dele.
Contudo, a carta em si é essencialmente um glifo da água. Mem é uma das três grandes letras-mãe, e seu valor é 40, o poder de Tetragrammaton plenamente desenvolvido por Malkuth, o símbolo do universo sob o demiurgo. Outrossim, a água é de maneira peculiar a letra-mãe pois tanto Shin quanto Aleph (as outras duas) representam idéias masculinas; e na natureza, o Homo sapiens é um mamífero marinho e nossa existência intra-uterina é passada no fluido amniótico. A lenda de Noé, da arca e do dilúvio não passa de uma apresentação hierática dos fatos da vida. É então a água que os Adeptos sempre contemplaram para a continuação (num sentido ou outro) e o prolongamento, e talvez a renovação da vida.
A lenda dos Evangelhos, abordando os Mistérios Maiores da Lança e da Taça (aqueles do deus Iacchus = Iao) como superiores aos Mistérios Menores (aqueles do deus Íon = Noé, e os deuses-N em geral), nos quais a espada mata o deus de modo que sua cabeça possa ser oferecida num prato, ou disco, diz: E um soldado com uma lança perfurou seu flanco, tendo saído sangue e água. Este vinho, colhido pelo Discípulo Amado e a Virgem Mãe, que esperavam sob a cruz ou árvore com essa finalidade, numa taça ou cálice, este é o Cálice Sagrado ou Santo Graal (Sangraal) de Monsalvat, a Montanha da Salvação. [Graal (gréal) significa realmente recipiente em forma de prato, xícara: francês antigo graal, greal, grasal, provavelmente uma corruptela do latim gradale, este uma corruptela de crater, tigela, vaso grande de boca larga, copo grande]. Este sacramento é exaltado no zênite em Câncer. Ver Atu VII.
É de extrema importância para o estudante percorrer circularmente de modo contínuo esta roda de simbolismo até que as figuras se fundam imperceptivelmente umas nas outras numa dança intoxicante de êxtase; enquanto não atingir isto não será capaz de partilhar do sacramento e executar para si mesmo - e para todos os homens ! - a Grande Obra.
Mas que ele se lembre também do segredo prático enclausurado em todos estes corredores de música varridos pelo vento, o real preparo da Pedra dos Sábios, a Medicina dos Metais e o Elixir da Vida !
Esta carta, atribuída à letra Mem, representa o elemento água. Seria talvez melhor dizer que representa a função espiritual da água na economia da iniciação; é um batismo que é também uma morte. No Aeon de Osíris, esta carta representava a suprema fórmula de adeptado, pois a figura do afogado ou pendurado possui seu próprio significado especial. As pernas estão cruzadas de maneira que a perna direita forma um ângulo reto com a perna esquerda e os braços estão esticados a um ângulo de 60 graus, de sorte a formar um triângulo eqüilátero, o que produz o símbolo do triângulo encimado pela cruz, que representa a descida da luz ao interior das trevas para redimi-la. Por esta razão há Discos verdes - verde, a cor de Vênus, significa graça - nas terminações dos membros e da cabeça. O ar acima da superfície da água também é verde infiltrado pelos raios da luz branca de Kether. A figura toda está suspensa do Ankh, um outro modo de figurar a fórmula da Rosacruz, enquanto que em torno do pé esquerdo está a serpente, criadora e destruidora, que opera toda a transformação (o que será visto na carta que se segue a esta).
Pode-se notar que há um aparente aumento de escuridão e solidez à proporção que o elemento redentor se manifesta, mas a cor verde é a cor de Vênus, da esperança que reside no amor. Isto depende da formulação da Rosacruz, do aniquilamento do eu no amado, a condição de progresso. Nesta escuridão inferior de morte, a serpente da nova vida começa a se agitar.
No Aeon anterior, o de Osíris, o elemento ar, que é a natureza deste Aeon, não antipatiza com a água ou o fogo; acordo era a marca desse período. Mas agora, sob um Senhor Ígneo do Aeon, o elemento aquoso, na medida em que a água está abaixo do Abismo, é definitivamente hostil, a menos que a oposição seja a oposição correta implícita no casamento. Mas nesta carta a única questão é da “redenção” do elemento submerso e, portanto, tudo está invertido. Esta idéia do sacrifício é, em última análise, uma idéia errônea.
“Eu dou inimagináveis alegrias sobre a terra: certeza, não fé, enquanto em vida, sobre a morte; paz indescritível, descanso, êxtase; e Eu não peço algo em sacrifício.”
“Todo homem e toda mulher é uma estrela.”
A idéia inteira do sacrifício é uma concepção equívoca da natureza e estes textos d’O Livro da Lei são a resposta a isso.
A água é o elemento da ilusão; é possível encarar este símbolo como um legado mau do velho Aeon. Para usar uma analogia anatômica: é um apêndice vermiforme espiritual.
Foi a água e os moradores da água que assassinaram Osíris; são os crocodilos que ameaçam Hoor-Pa-Kraat.
Esta carta é bela de uma maneira estranha, imemorial, moribunda. É a carta do deus que morre; sua importância no presente baralho é simplesmente aquela do cenotáfio. Ela diz: “Se acontecer das coisas se tornarem más daquele jeito novamente, na nova Idade das Trevas que parece ameaçar, este é o modo de acertar as coisas.” Mas se as coisas têm que ser acertadas, isto indica que estão muito erradas. A principal meta dos sábios deveria ser livrar a espécie humana da insolência do auto-sacrifício, da calamidade da castidade; a fé tem que ser morta pela certeza e a castidade pelo êxtase.
Está escrito em O Livro da Lei: “Não te apiedes dos caídos! Eu nunca os conheci. Eu não sou para eles. Eu não consolo: Eu odeio o consolado & o consolador.”
Redenção é uma palavra ruim; implica numa dívida. Pois toda estrela possui riqueza ilimitada; o único meio adequado de lidar com os ignorantes é conduzi-los ao conhecimento de sua herança de estrela. Para fazê-lo é necessário comportar-se como deve ser feito a fim de entrar em acordo com os animais e as crianças: tratá-los com absoluto respeito, mesmo, num certo sentido, com veneração.
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Note-se na Precessão dos Aeons. “O Pendurado” é uma invenção dos Adeptos da fórmula do I.N.R.I.- J.A.O.. No Aeon anterior ao osiríaco, o de Ísis (água), ele é “O Afogado”. As duas colunas de suporte da forca mostrada nos baralhos medievais eram, no sistema partenogenético de explicação e regência da natureza, o fundo do mar e a quilha da arca. Neste Aeon todo nascimento era considerado uma emanação, sem intervenção masculina, da Deusa-Mãe ou Deusa-Estrela, Nuit. Toda a morte é um retorno a Ela. Isto explica a atribuição original do Atu à água e o som M o retorno ao silêncio eterno, como na palavra AUM. Esta carta é, portanto, especialmente sagrada ao místico, sendo a atitude da figura uma postura ritual na prática denominada “O Sono de Shiloam”.
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A importância alquímica desta carta é tão estranha a todas as implicações dogmáticas que se afigurou melhor tratá-la completamente em separado. Suas qualidades técnicas são independentes de qualquer maneira de todas as outras doutrinas. Temos aqui uma matéria de significado estritamente científico. O estudante será prudente ao ler em conexão com estas observações o capítulo XII de Magick.
O Atu representa o sacrifício de “uma criança do sexo masculino de perfeita inocência e elevada inteligência” - estas palavras foram escolhidas com o mais extremo cuidado. O significado de sua atitude já foi descrito, e do fato de ser dependurado de um Ankh, um equivalente da Rosacruz. Em algumas cartas antigas a forca é um pilone, ou o galho de uma árvore, cuja forma sugere a letra Daleth (((grafar a letra Daleth))), Vênus, Amor.
Ao fundo do Pendurado há uma grade imensa de pequenos quadrados. São as plaquetas elementares que exibem os nomes e sigilla de todas as energias da natureza. Através de seu trabalho uma criança é gerada, como é mostrado pela serpente se agitando na escuridão do Abismo abaixo dele.
Contudo, a carta em si é essencialmente um glifo da água. Mem é uma das três grandes letras-mãe, e seu valor é 40, o poder de Tetragrammaton plenamente desenvolvido por Malkuth, o símbolo do universo sob o demiurgo. Outrossim, a água é de maneira peculiar a letra-mãe pois tanto Shin quanto Aleph (as outras duas) representam idéias masculinas; e na natureza, o Homo sapiens é um mamífero marinho e nossa existência intra-uterina é passada no fluido amniótico. A lenda de Noé, da arca e do dilúvio não passa de uma apresentação hierática dos fatos da vida. É então a água que os Adeptos sempre contemplaram para a continuação (num sentido ou outro) e o prolongamento, e talvez a renovação da vida.
A lenda dos Evangelhos, abordando os Mistérios Maiores da Lança e da Taça (aqueles do deus Iacchus = Iao) como superiores aos Mistérios Menores (aqueles do deus Íon = Noé, e os deuses-N em geral), nos quais a espada mata o deus de modo que sua cabeça possa ser oferecida num prato, ou disco, diz: E um soldado com uma lança perfurou seu flanco, tendo saído sangue e água. Este vinho, colhido pelo Discípulo Amado e a Virgem Mãe, que esperavam sob a cruz ou árvore com essa finalidade, numa taça ou cálice, este é o Cálice Sagrado ou Santo Graal (Sangraal) de Monsalvat, a Montanha da Salvação. [Graal (gréal) significa realmente recipiente em forma de prato, xícara: francês antigo graal, greal, grasal, provavelmente uma corruptela do latim gradale, este uma corruptela de crater, tigela, vaso grande de boca larga, copo grande]. Este sacramento é exaltado no zênite em Câncer. Ver Atu VII.
É de extrema importância para o estudante percorrer circularmente de modo contínuo esta roda de simbolismo até que as figuras se fundam imperceptivelmente umas nas outras numa dança intoxicante de êxtase; enquanto não atingir isto não será capaz de partilhar do sacramento e executar para si mesmo - e para todos os homens ! - a Grande Obra.
Mas que ele se lembre também do segredo prático enclausurado em todos estes corredores de música varridos pelo vento, o real preparo da Pedra dos Sábios, a Medicina dos Metais e o Elixir da Vida !
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