sábado, 11 de abril de 2009

8- AJUSTAMENTO


VIII. AJUSTAMENTO

Esta carta no baralho antigo era chamada de Justiça. Esta palavra detém somente um sentido puramente humano e, conseqüentemente, relativo, de modo a não ser considerada um dos fatos da natureza. A natureza não é justa de acordo com qualquer idéia teológica ou ética, mas sim exata.

Esta carta representa o signo de Libra, regido por Vênus e onde Saturno é exaltado. O equilíbrio de todas as coisas é aqui simbolizado. É o Ajustamento final na fórmula de Tetragrammaton, quando a filha, redimida por seu casamento com o filho, é por isso instalada no trono da mãe; assim, finalmente, ela “desperta a Longevidade do Todo-Pai.”

No maior simbolismo de todos, entretanto, o simbolismo além de todas as considerações planetárias e zodiacais, esta carta é o complemento feminino de O Louco, pois as letras Aleph, Lamed constituem a chave secreta d’O Livro da Lei, e isto é a base de um sistema qabalístico completo de profundidade e sublimidade maiores que qualquer outro. As minúcias deste sistema ainda não foram reveladas. Foi julgado correto, entretanto, dar a entender sua existência mediante o equacionamento dessas duas cartas. Não apenas em conseqüência, porque Libra é um signo de Vênus, mas também porque ela é a parceira do Louco, a deusa é representada dançando, sugerindo Arlequim.

A figura é a de uma mulher jovem e esbelta equilibrada com exatidão sobre as pontas dos dedões. Ela está coroada com as plumas de avestruz de Maat, a deusa egípcia da Justiça e sobre sua fronte está a serpente Uraeus, o Senhor da Vida e da Morte. Ela está mascarada e sua expressão demonstra sua secreta e íntima satisfação pelo domínio sobre todo elemento de des-equilíbrio no universo. Esta condição é simbolizada pela espada mágica que ela segura nas duas mãos e os pratos de balança ou esferas nos quais ela pesa o universo, Alfa, o Primeiro equilibrado exatamente com Ômega, o Último. Estes são os Judex e Testes do Juízo Final; os Testes, em particular, simbolizam o andamento secreto do julgamento por meio do qual toda experiência corrente é absorvida, transmudada e finalmente passada à frente, em virtude da operação da espada, à outra manifestação. Tudo isto ocorre dentro do losango formado pela figura que é a Vesica Piscis através da qual essa experiência sublimada e ajustada passa à sua manifestação seguinte.

Ela se equilibra ante um trono composto de esferas e pirâmides (em número de quatro, significando lei e limitação), as quais, elas mesmas, mantêm a mesma eqüidade que ela própria manifesta, embora num plano completamente impessoal, na estrutura dentro da qual todas as operações têm lugar. Fora, mais uma vez, no canto da carta, são indicadas esferas equilibradas de luz e trevas, e raios constantemente equilibrados a partir destas esferas formam uma cortina, a interação de todas essas forças que ela resume e adjudica.

É preciso aprofundar-se mais filosoficamente: este trunfo representa A Mulher Satisfeita. O equilíbrio permanece apartado de quaisquer preconceitos individuais, e portanto o título na França deveria ser preferivelmente Justesse. Neste sentido, a natureza é escrupulosamente justa. É impossível deixar cair um alfinete sem desencadear uma reação correspondente em toda Estrela. A ação perturbou o equilíbrio do universo.

Esta deusa-mulher é Arlequim. Ela é a parceira e o cumprimento de O Louco. Ela é a ilusão última que é manifestação; ela é a dança, de muitas cores, de muitas manhas, da própria vida. Em rodopio constante, todas as possibilidades são desfrutadas sob o espetáculo-fantasma do espaço e do tempo: todas as coisas são reais, a alma é a superfície precisamente porque elas são instantaneamente compensadas por este Ajustamento. Todas as coisas são harmonia e beleza; todas as coisas são verdade porque se compensam.

Ela é a deusa Maat e tem sobre sua nêmis as penas de avestruz da verdade dupla.

Desta coroa, tão delicada que o mais débil alento do pensar tem que agitá-la, dependem pelas cadeias da causa os pratos em que Alfa, o primeiro é posto em perfeito equilíbrio com Ômega, o último. Os pratos da balança são as duas testemunhas nas quais toda palavra será estabelecida. Ela deve ser entendida, portanto, avaliando a virtude de todo ato e exigindo satisfação exata e precisa.

Mais do que isso, ela é a completa fórmula da díade. A palavra AL é o título de O Livro da Lei, cujo número é 31, a mais secreta das chaves numéricas daquele Livro. Ela representa manifestação que é possível sempre se compensar pelo equilíbrio dos opostos.

Ela está envolvida numa capa de mistério, e mais misteriosa porque diáfana; ela é a esfinge sem segredo porque é puramente uma matéria de cálculo. Na filosofia oriental ela é karma.

Suas atribuições desenvolvem esta tese. Vênus rege o signo da Balança * e isto é mostrar a fórmula: “Amor é a lei, amor sob a vontade”. Mas Saturno representa, acima de tudo, o elemento tempo, sem o qual o Ajustamento não pode ocorrer, pois toda ação e reação ocorrem no tempo, e portanto, o tempo sendo ele mesmo meramente uma condição dos fenômenos, todos os fenômenos são inválidos porque não compensados.

* Libra (NT).

A Mulher Satisfeita. Da capa do desregramento vívido de suas asas dançantes brotam suas mãos; estas seguram o punho da espada fálica do mago. Ela segura a lâmina entre suas coxas.

Mais uma vez um hieróglifo de “Amor é a lei, amor sob a vontade”. Toda forma de energia tem que ser dirigida, tem que ser aplicada com integridade para a satisfação plena de seu destino.

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