domingo, 19 de abril de 2009

Cabala - Dion Fortune


CABALA
Cabala é um sistema vivo de desenvolvimento espiritual.
Dion Fortune

Cabala- A palavra Cabala significa Tradição ou aquilo que é recebido.
A Qabalah pode ser definida como sendo a doutrina esotérica Judaica. Em hebraico se chama QBLH, Qabalah, que é derivada da raiz QBL, Qibel, significando "receber." Esta denominação se refere ao costume de dar o conhecimento esotérico por transmissão oral, e é intimamente aliada a "tradição."1

A Cabala é classificada em quatro categorias:
Cabala Prática- magia talismânica e cerimonial.
Cabaça Literal- trata do uso das letras e dos números; é dividida em 3 partes: Gematria, Notariqon e Temurah.
Cabala Não-escrita- tradição oral: "de boca para ouvido".
Cabala Dogmática- é a literatura cabalística, ou seja, a Cabala Escrita, cujas obras principais são:
O Sepher Yetzirah e suas subordinações.
O Sepher Yetzirah ou "Livro da Formação", trata da cosmogonia segundo simbolizada pelos 10 números e vinte e duas letras do alfabeto, que são os chamados "trinta e dois caminhos."
O Zohar com seus desenvolvimentos e comentários.
O Zohar, ou "Esplendor", além de muitos outros tratados menos notáveis, contém os seguintes livros mais importantes:
(a) O Siphra Dtzenioutha, ou "Book of Concealed Mystery (Livro do Mistério Oculto)," que é a raiz e a fundação do Zohar.
(b) O Idra Rabba Qadisha ou "Greater Holy Assembly (Grande Assembléia Sagrada)" este é um desenvolvimento do " Livro do Mistério Oculto."
(c) O Idra Zuta Qadisha, ou "Lesser Holy Assembly (Assembléia Sagrada Menor);" que está na natureza de um suplemento para o "Idra Rabba." Estes três livros tratam do desenvolvimento gradual da Deidade criativa, e com Ele a Criação.
(d) O tratado pneumático Beth Elohim, ou a "Casa de Elohim", trata de anjos, demônios, espíritos elementais e almas. Idéias de Isaac Lúria.
(e) O "Livro da Revolução das Almas" é um tratado peculiar e discursivo, e é uma expansão das idéias de Isaac Lúria.
O Sepher Sephiroth e suas expansões.
O Sepher Sephiroth ou "Livro das Emanações", descreve, por assim dizer, a evolução gradual da Deidade da existência negativa para a positiva.
O Asch Metzareph seu simbolismo.
O Asch Metzareph ou "Fogo Purificante", trata de hermetismo e alquimia, é pouco conhecido.
A Cabala é representada pela Árvore da Vida (Otz Chiim) ou Sephirot.
A Árvore da Vida é composta por 10 Sephirot (plural de Sephira), a saber: Kether, Chockmah, Binah, Chesed, Geburah, Tiphereth, Netzah, Hod, Yesod e Malkuth. Ainda há uma 11a Sephira chamada Daath (Conhecimento), que está oculta na Árvore entre as Sephirot Chesed e Binah; ela está oculta pois Daath é uma Ponte que nós mesmos devemos construir para cruzar o Abismo. Há também um mundo paralelo conhecido Como Qlipoth ou a Árvore da Morte, que corresponde aos aspectos adversos das Sephirot, seus lados negativos
Acima de Kether há ainda os Três Véus da Existência.: Ain, Ain Soph e Ain Soph Aur.
Completando a Árvore da Vida há 22 caminhos que ligam uma Sephira à outra.
Eis o Esquema da Árvore da Vida:

O conjunto da dez Sephiroth representam o Homem Divino, o Ser Primordial, Adam Kadmon.
As 10 Sephirot se correspondem às 10 numerações dos Arcanos Menores do Tarô, com cada Sephira contendo as quatro manifestações de cada número, segundo a influência dos 4 elementos; os 22 caminhos correspondem aos 22 Arcanos maiores do Tarô.
Assim:
Kether- 4 Ases
Chockmah- 4 Dois
Binah- 4 Três
Chesed- 4 Quatros
Geburah- 4 Cincos
Tiphereth- 4 Seis
Netzah- 4 Setes
Hod- 4 Oitos
Yesod- 4 Noves
Malkuth- 4 Dez
Ex.: o Ás de Paus corresponde ao elemento fogo, o de copas à água, o de Espadas ao ar, e o de Ouros à terra. Assim temos quatro espécie de Ases, diferenciados pelos elementos que os regem; e os outros arcanos menores seguem o mesmo esquema.
Quanto aos 22 caminhos, cada um corresponde a uma carta do Tarô, mas tal relação não será dada no presente ensaio.
Os Véus da Existência

As três raízes da Árvore estão ocultas por trás dos véus do Grande Imanifesto, pois a verdadeira origem da vida será sempre um mistério. Os 3 Véus da Existência são:
Ain- "Nada"; Nada Absoluto.
Ain Soph- "O Ilimitado", expansão ilimitada, em abundância infinita.
Ain Soph Aur- "Luz Ilimitada"
Estes são 3 Véus da Existência Negativa que pendem sobre Kether. Eles transcendem ao pensamento, mas ocultam, ao mesmo tempo, o que representam; são máscaras da realidade transcendente. Embora não os compreendermos, eles sugerem idéias às nossa mentes. Embora a Existência Negativa escape a nossa compreensão, não estamos fora de seu âmbito de influência, pois tudo o que conhecemos tem raízes nesta Existência Negativa.
O Véu de Paroketh

Há um quarto véu na Árvore da Vida. Este é o Veú de Paroketh, que faz com que a esfera Daath (Conhecimento) fique oculta na Árvore, e separa as 6 primeiras Sephirot (de Tiphereth à Kether) das 4 posteriores (de Hod à Malkuth). Este véu também é chamado a Ponte do Arco-Íris. É o véu entre o corpo e a alma, rasgado em duas partes no momento na crucificação de Cristo.
O Véu de Paroketh se localiza na Árvore na altura de Tiphereth, cortando Tipheret ao meio (sic), e Tiphereth na Cabala é a morada do Cristo. Tiphereth é a morada de todos os avatares e dos grandes mestres do mundo: Cristo, Buda, Rama, Khrishna, Osíris... que passaram pela agonia da renúncia completa e do sacrifício supremo. Pois Tiphereth é o lar da letra Vau, a terceira letra do sagrado Tetragrammaton (Yod-He-Vau-He, o nome de Deus), e Vau significa prego. Vau é o "prego" do sacrifício voluntário: o Cristo crucificado, Odin de cabeça para baixo no YggDrasil, renúncia, martirização, desprendimento. Não é a toa que a carta do Enforcado ou Pendurado (que no Tarô de Crowley faz alusão a Odin) na Árvore da Vida se localiza entre Geburah e Hod, no caminho que é cortado pelo Véu de Paroketh.
O Vau de Tiphereth, em seu sentido de "prego", também junta o que "está em cima" com o "que está embaixo", é o elo do que é cortado pelo Véu de Paroketh.
As 10 Sephiroth
Kether ou Coroa- esta é a primeira Sephira, de onde provieram as outras nove. É representada por um velho Rei barbado visto de perfil, pois há uma face de Kether que nos é velada. O grande Imanifesto de Kether é incompreensível para a nossa consciência manifesta. O Número 1. É a semente da Criação, mas é ainda está num estado primário de existência. Não há separação de opostos, ou seja, não é masculino ou feminino, nem positivo ou negativo. É Arikh Anpin, o Grande Rosto, ou Macroprosopus.
Chockmah ou Sabedoria – Segunda Sephira; potência ativa e masculina, também é chamada AB, o Pai. Aqui começa a Criação assim, sob os auspícios do Pai. Aqui começa as manifestação dos opostos, com o surgimento da potência masculina, ativa, e positiva. Letra Yod do Tetragrammaton.
Binah ou Entendimento- terceira Sephira; potência passiva e feminina , também chamada de AMA, Mãe, ou AIMA, a grande Mãe produtiva, que conjuga eternamente com AB, o Pai, para a manter o universo em ordem. Mãe Supernal, que com o seu surgimento completa o Triângulo Supernal: Kether-Chockmah-Binah; Triângulo este fora da compreensão e do alcance do homem comum. Primeiro He do Tetragrammaton.
Chesed ou Misericórdia- quarta Sephira; potência ativa e masculina, surge da união da Segunda e da Terceira Sephirot. Esta Sephira de Amor ou Misericórdia, faz oposição à Quinta Sephira da Severidade.
Geburah ou Severidade- quinta Sephira; potência passiva e feminina, significa força ou coragem; ou DIN, Deen, Justiça; Para entender Geburah, procure se lembrar sobre o que significa o naipe de espadas nos Arcanos Menores do Tarô: lutas, guerras, batalhas. Mas esta Sephira não é de todo ruim, pois também emana força e coragem. Para quem já estudou a exegese cabalística, deve lembrar que foi o excesso de poderes de DIN (julgamento) que causou desequilíbrio no ato da Criação, e causou a quebra das esferas superiores, que estavam com excesso de Luz, e assim se originaram as Qlipoth, aspectos negativos quase sem Luz, com um mínimo de Luz.
Tiphereth ou Beleza- sexta Sephira, assim como Kether não é dividida em masculino ou feminino, pois está no Pilar da Suavidade; surge da união das duas Sephiroth precedentes e é o equilíbrio destas. Completa a Segunda Trindade das Sephirot. Juntamente com a quarta, a quinta, a sétima, a oitava e a nona Sephiroth, forma o Zauir Anpin, o Rosto Menor, ou Microprosopus, em antítese ao Macroprosopus, ou o Grande Rosto, que é um dos nomes de Kether, a primeira Sephira. Esta seis Sephirot que formam o Rosto Menor, são chamadas de os Seis Membros, deste Rosto. Esta sintetiza a força de mais 5 Sephirot para formar o Pequeno Rosto (total de 6), leva a Letra Vau do Tetragrammaton, associada ao Pequeno Rosto ou Microprosopus.
Netzah ou Vitória- sétima Sephira; potência ativa e masculina.
Hod ou Glória- ou Esplendor; oitava Sephira; potência passiva e feminina.
Yesod ou Fundamento- nona Sephira; não possui divisão em opostos; junção das duas precedentes, completa a Terceira Trindade da Árvore da Vida.
Malkuth ou Reino- décima Sephira; não possui divisão em opostos; junção das nove precedentes. Ela é chamada a Rainha, Matrona, a Mãe inferior, a Noiva do Microprosopus (O Rosto Menor, junção de seis das Sephirot) ; e Shekinah. Segunda Letra He do Tetragrammaton.
Cada uma das Sephiroth tem um certo grau andrógino, por isto será feminino ou receptivo no que diz respeito à Sephira que o precede imediatamente na escala Sephirotica, e masculino ou transmissor no que diz respeito à Sephira que o segue imediatamente. Mas não há Sephira anterior a Kether, nem há Sephira que suceda Malkuth. Por estas observações será compreendido como Chockmah é um nome feminino, embora lembrando uma Sephira masculina.
Trindades:

Triângulo Supernal: Kether, Chockmah e Binah.
Segunda Trindade: Chesed, Geburah e Tipheret.
Terceira Tríade: Netzah, Hod e Yesod.
Malkuth, não faz parte de nenhuma trindade de todas as outras 9 Sephirot.
Cada uma destas três trindades da Sephiroth é um dualismo de sexo opostos, e a união resulta em inteligência. Assim, as potências masculinas e femininas são consideradas como as duas escalas da balança, e a Sephira de união faz com que se juntem. Assim, o equilíbrio ou balança simboliza o Triuno, Trindade em Unidade, e a Unidade representada pela ponta central da viga.
Pilares:
Pilar da Misericórdia- Pilar da direita, possui as Sephirot masculinas: Chockmah. Chesed, e Netzah.
Pilar da Suavidade- Pilar do Meio, possui as Sephirot equilibradas: Kether, Tipheret, Yesod e Malkuth.
Pilar da Severidade- Pilar Esquerdo, possui as Sephirot femininas: Binah, Geburah e Hod.
Note que o Pilar da Misericórdia traz o nome de Chesed, o da Severidade traz o nome de Geburah e o da suavidade traz um dos nomes de Tiphereth (Suavidade).
Quatro Mundos da Cabala:
Atziluth- Mundo Arquetípico, dá a luz aos três mundos posteriores. Cada um dos 4 mundos possui uma repetição da Sephirot (em cada um há uma completa Árvore da vida), mas em escala descendente de brilho. Em aspectos gerais engloba apenas a Sephira Kether.
Briah ou mundo da Criação- Aqui as Sephirot se encontram num estado mais limitado, mas ainda puras, sem alguma mistura adicional de matéria. Engloba Chockmah e Binah.
Yetzirah ou Mundo da Formação- e mundo dos anjos. Embora menos refinado em substância, é ainda sem matéria. Engloba o Pequeno rosto ou: Chesed, Geburah, Tiphereth, Netzah, Hod e Yesod.
Assiah ou Mundo da Ação- é também chamado o mundo das cascas, OVLM HQLIPVTh, Olahm Ha-Qliphoth, que é o mundo da matéria, feito de grossos elementos de outra árvore. Este também é a residência de maus espíritos que são chamados "as cascas" pela Qabalah, Qliphoth, cascas materiais. Os demônios também estão divididos em dez classes, e têm habitações apropriadas.2

MacGregor Mathers o classifica como o Mundo das Cascas ou Qlipoth, mas não é bem assim. Na verdade Assiah é o Mundo Material, onde todas as dualidades estão afloradas. Então dependendo das ações do homem, ele pode mergulhar tanto na Árvore da vida quanto na Árvore da Morte, pode pender tanto para bem quanto para o mal. Então Assiah não é o mundo de Qlipoth, mas o único dos quatro mundos onde se tem passagem ao Reino das Qlipoth. Lembrem-se que cada um dos quatro mundos tem sua própria completa Árvore da Vida, então é a completa Árvore da vida, sob a vibração de Assiah, a única das digamos 4 árvores que possui toda uma Árvore da Morte em oposição a si mesma. É fácil: o mundo material implica vida material, a vida material cessa com a morte (diferente do mundo espiritual onde há vida eterna); então havendo vida e morte, há a Árvore da vida e a Árvore da Morte.
Em aspectos gerais engloba a Sephira Malkuth. Ou seja é no Reino, que temos todas as nuanças de bem e mal, vida e morte.
Daath

É o conhecimento no sentido bíblico, de Adão conhecendo Eva e de Eva conhecendo Adão. É ao mesmo tempo o ato exterior e o ato interior do partilhar. É a união na qual cada parte é simultaneamente ativa e passiva na busca da realização.
Daath paira sobre o Abismo, na fronteira entre os Mundos da Criação e da Formação.
Como é a esfera do Conhecimento, aqui a alma e a mente se tocam e compartilham uma relação amistosa.
Daath representa o relacionamento íntimo entre a Sabedoria (Chockmah) criativa, ativa e passiva da energia masculina, e a Compreensão (Binah), receptiva, ativa e passiva da energia feminina. Nesta intimidade. A identidade de cada parceiro jamais se perde, assim como a luz e a sombra encontram-se sem se misturar; é uma parceria que jamais pode acontecer em isolamento. Em suma, Daath é o berço dos relacionamentos.

O Conhecimento oculto em Daath provém do ato de partilhar sem ânsia de resultado, o partilhar desinteressado, o conhecimento alcançado sem se dar nada em troca. Esta característica de Daath me faz lembrar da seguinte passagem de Liber Al: Meu número é 11, como todos os números deles que são de nós. A Estrela de Cinco pontas com um Círculo no Meio, & o círculo é Vermelho. Minha cor é negra para o cego, mas o azul & ouro são vistos pelo que vê. Além disso eu tenho uma secreta glória para os que me amam. (I:60) Mas amar-me é melhor que todas as coisas: se sob as estrelas noturnas no deserto tu presentemente queimas meu incenso perante mim, invocando-me com um coração puro, e a chama da Serpente aí dentro, tu deverás vir a deitar um pouco em meu seio. Por um beijo tu então estarás querendo tudo dar, mas aquele que der uma partícula de pó deverá tudo perder nesta hora (I:61).

Neste caso Nuit é o complemento feminino do Iniciado e também a fonte de Conhecimento.
Daath é o berço do amor físico, já que a vida humana tem início no ato sexual. A partilha voluntária, o Amor sob Vontade, é a chave para o aflorar do mais profundo mistério da criação.
O amor verdadeiro nada conhece além do próprio amor. Há três espécies de amor: o amor físico; o amor das emoções, que faz parte do desejo e é um aspecto externo do amor; e o amor espiritual (Ágape), que é inspirado pelo Conhecimento (Daath) alcançado através da Sabedoria (Chockmah) e da Compreensão (Binah). Com a união jubilosa destas três formas de amor, compreende-se Daath.
O Amor sob Vontade é a chave de Daath, pois a totalidade do Amor é a matéria-prima de que é feito o Universo.
Notas:
1 e 2- MacGregor Mathers, em "Introdução à Cabala Desvelada".

Referências Bibliográficas:

A Cabala Mística. Dion Fortune. Pensamento.
Cabala- O Caminho da Liberdade Interior. Ann Williams-Heller. Pensamento.
Liber Al vel Legis- tradução da Ordo Templi Orientis Brasil.
Introdução à Cabala Desvelada- Samuel MacGregor Liddel Mathers.
O Tarô Cabalístico- Robert Wang.
Cabala- A Tradição Esotérica do Ocidente- Franscisco Valdomiro Lorenz.

Por Soror Agarath
Amor é a lei, amor sob Vontade

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